Nós engenheiros, temos que pedir perdão às futuras gerações

Fernando de Barros

Quando fazemos coisas que não são proibidas nem pela legislação nacional nem pela ética, cremos que estamos fazendo o certo. Porem desde que me formei engenheiro civil pela PUC RJ em 1973, agi como engenheiro, construí de tudo, conjuntos residenciais, indústrias, hospitais, Shopping e grandes empreendimentos comerciais, inclusive pontes e estradas. Para cumprir minha missão, comprava do Paraná, pelo menos três caminhões de madeira toda semana, durante mais de 15 anos, eram peças de peroba rosa para fazer telhados ou para sustentar formas de concreto armado, tábuas de pinho para fazer formas nas obras, e cedro e canela para fazer esquadrias. Somente em 2002 quando vim ao interior do Paraná que percebi que eu tinha contribuído para o desaparecimento de milhares de árvores centenárias.

Nas obras em geral não se tinha a preocupação com o meio ambiente, qualquer vestígio de água que atrapalhasse o bom andamento da obra era drenado, e quando se fazia escavação nas obras, a terra ia para o meio da rua grudada nos pneus dos caminhões, sujando-a e pior ficava quando chovia, pois ai que a rua era toda elameada, o que era considerado normal pelos colegas de profissão.

As árvores sempre eram obstáculos a serem vencidos, e nos barracões de obras sempre havia pelo menos dois machados e varias foices, para fazer o que chamávamos de limpeza do terreno, sem preocupações com o que iríamos “limpar”.
Para facilitar a limpeza do terreno em geral a solução adotada era amontoar a galhada e tacar fogo, afinal isto era uma prática considerada normal.

Durante a obra, contratávamos caminhões para levar os entulhos, todos misturados, desde papelão, pedaços de concreto, pontas de ferro, madeira e restos de marmitas, nem sei pra onde os levavam, só os queríamos longe de nossas obras, na verdade não nos preocupava se os entulhos fossem jogados em terrenos baldios, fundos de vale ou beiras de rios.

No final da obra, era uma montanha de pedaços de madeira, toda aquela madeira que comprávamos do Paraná, virava lenha que os caminhões levavam e jogavam em qualquer lugar, a nos engenheiros não nos interessava, pois queríamos nossa obra sempre limpa.

O esgoto dos sanitários dos funcionários era jogado em um buraco no chão bem fundo para não transbordar, em geral em uma fossa negra, bem escondida para não chamar a atenção.

Os restos de tintas e solventes eram jogados em geral na rede pluvial ou de esgotos, sem nenhum complexo de culpa.
Hoje em pleno século XXI, no ano de 2012, conscientes de nossos erros do passado e do mal que eles fizeram a natureza e a saúde das pessoas, temos que pedir perdão as futuras gerações por nossas ações, que apesar de inocentes provocaram danos irreversíveis ao meio ambiente.

Perdoem-nos, pois não sabíamos o que fazíamos. Apesar de nada adiantar este lamento, agora conscientes dos impactos de nossa atividade no meio ambiente, a única forma de nos redimirmos e passarmos a agir de forma bem diferente, construirmos de forma sustentável, buscando a certificação de nossas obras, para não errarmos mais.

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