A valiosa água dos aquíferos

Fernando de Barros

Jorge Rodrigues, leitor de nossa coluna, questiona se devemos ou não usar a água dos aquíferos para abastecer as cidades. Esta pergunta merece uma boa reflexão. Temos no Brasil água suficiente para abastecer a população e nossa agricultura. Com cerca de 12% da água potável do planeta, se não tivermos esta condição, nenhum outro país terá. Porém, tratamos nossos rios e nascentes muito mal, do jeito do século XX, utilizando os rios como veículos para levar para longe nossas sujidades, como o esgoto, efluentes industriais, lixo jogado nas ruas etc.

Basta fazer uma rápida avaliação da qualidade das águas de nossos rios para descobrir o óbvio: quantidades de poluentes muito acima do preconizado pela legislação, coliformes à vontade, sólidos em suspensão em grande quantidade, e a DBO e a DQO – indicadores da qualidade da água – fora dos padrões legais. Sem falar do oxigênio dissolvido que, em geral, está tão baixo que inviabiliza e vida aquática nos rios, em especial nos trechos urbanos.

Mas se temos água em abundância por que vamos buscar água nos aqüíferos para abastecer as cidades? Isto ocorre por nossa renúncia, por nossa desistência de controlar a poluição e acharmos que é mais fácil captar água dos aqüíferos do que exigir o cumprimento da legislação ambiental, pois, como tenho ressaltado nesta coluna, toda poluição gera doenças.

O uso dos aqüíferos é na verdade a saída mais fácil, mas que pode custar a vida de milhares de brasileiros no futuro, pois a água dos aquíferos, como o Guarani, demorou centenas ou até milhares de anos para ser ali depositada, e nós, rapidinho, vamos esgotá-la, ficando sem reserva para as futuras gerações. Também corremos o risco de contaminá-la diretamente com captações mal feitas.

Em uma breve avaliação de nosso consumo, vamos verificar que utilizamos esta água tratada para lavar calçadas, irrigar plantas, fazer limpeza e até para conduzir nossos dejetos para a rede de esgotos, como se eles fossem da realeza e tivessem que ser conduzidos por água potável. Nos empreendimentos comerciais e industriais, estudos mostram que cerca de 40 a 50% da água que usamos poderia ser proveniente de captação de água de chuva ou do tratamento de águas cinzas, que são as provenientes dos lavatórios, tanques e chuveiros.

Vamos deixar a água dos aquíferos para uma emergência das gerações futuras, e enfrentemos a questão da poluição de nossos rios e incentivemos o uso de água pluvial e o tratamento de águas cinzas. As futuras gerações vão agradecer.

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