O pior da crise da água ainda está por vir, indica expedição
Greenpeace sai em expedição para registrar de perto – e do alto, com drones – a real situação dos principais mananciais do Sudeste. Confira.

O sol forte deixa as milhares de fraturas no solo ressecado ainda mais dramáticas. Após décadas submersa, uma ponte ressurge no meio represa. O que resta de água no manancial está no fundo da calha do rio. Bem lá no fundo. No momento, fim da estação de chuvas de 2015, o Serra Azul tem cerca de 9,10% de sua capacidade. Em 2014, a média do reservatório para o mês de março foi de 44,3%. Ou seja, estamos registrando o mais baixo nível da história deste manancial para esta época do ano. Engolindo a seco, nos damos conta de que somos testemunhas de um colapso ambiental de grandes proporções.

Ao captar imagens aéreas com precisão e rapidez, um drone é uma ferramenta tecnológica ágil para pesquisas de diversas finalidades. Sem sobrevoar núcleo urbano algum, nossa expedição conseguiu realizar 14voos, com mais de 4 horas no ar ao todo, mapeando 607 hectares nos três mananciais. O esforço resultou em 668 fotos das represas e dos seus entornos. Ao colocar o pé na estrada, a expedição sabia que o uso da tecnologia dos drones para monitorar a situação dos mananciais seria pioneiro no Brasil. O que não sabíamos era o que nós mesmos testemunharíamos com nossos próprios olhos.

“Rapaz, tá vendo meus bois pastando ali? Era tudo água não faz nem dois anos. De repente secou tudo”, conta Paulo Ribeiro da Silva, produtor de leite que vive nas proximidades da represa. Seu Paulo explica que cresceu na região e que nunca viu o espelho d’água encolher dessa maneira. “Se o governo ajudasse a gente a manter as matas de beira de rio e proteger as nascentes, a situação ia ser outra”, sugere. Pois é, o produtor de leite também sabe que, sem floresta, não tem água.
Veja o mapa:

Da bacia do Paraíba do Sul a expedição chegou à região símbolo da crise hídrica que atinge todo o Sudeste brasileiro: o Sistema Cantareira, mais importante sistema de abastecimento da maior metrópole da América do Sul. Desde meados de 2014 produzindo água por conta do chamado “volume morto”, o Cantareira é um conjunto interligado de reservatórios que abastece mais de 5 milhões de pessoas na Grande São Paulo. Ou abastecia, pois o governo do estado tem transferido parte do atendimento anteriormente feito pelo Cantareira para outros mananciais em função de seu colapso. Da beira da represa ou do alto de morros, observamos o Cantareira com menos 11% de sua capacidade (sem contar o volume morto, cujo uso começou em maio de 2014). Isso mesmo, o Cantareira está com seu nível de água negativo em onze pontos percentuais. Há um ano, este índice estava em cerca de 14%.
Lançamos o drone em três pontos diferentes de uma das represas, a Jaguari-Jacareí. Para quem se preocupa com o futuro de São Paulo, um aviso: as imagens captadas do alto são fortes. Apenas 15% das florestas da bacia estão preservadas. Dos rios que compõem o manancial, 76,5% estão sem suas matas ciliares. Se a vegetação na bacia contribui com o ciclo da água na escala regional e as matas ciliares, por sua vez, protegem rios e nascentes de água de impactos como erosão e assoreamento, temos um manancial seriamente degradado. “A economia da região já sente o esgotamento das represas” diz Marcelo Delduque, proprietário da Fazenda Serrinha, localizada às margens da Jaguari-Jacareí. “Muita gente que vivia do turismo e do lazer perdeu emprego”.
Assista ao primeiro episódio:
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As consequências da crise hídrica vão muito além da economia, entretanto. O colapso dos principais mananciais que abastecem as grandes cidades do Sudeste compromete a própria sustentabilidade da região, afetando a saúde, qualidade de vida e sobrevivência de sua população. A expedição aumentou a percepção de que o Sudeste e outras regiões brasileiras estão em uma sinuca de bico e não vai ter solução mágica. Um passo fundamental é acabar com o desmatamento agora. “E começar a reflorestar, pois só assim podemos recuperar a capacidade dos mananciais de produzir e armazenar água com qualidade”, completa Cristiane Mazzetti.

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